Esses dias estava numa conversa literária com as amigas, mais especificamente sobre literatura biográfica e entre um “biografia é o meu estilo preferido” e outro, eis que ouço: “eu adoro biografias, não importa muito se eu eu gosto da pessoa ou não, biografias costumam ser legais”. Diante disso não tinha como não indicar o livro que vou indicar aqui hoje: Só Garotos, a autobiografia de Patti Smith que a fez ganhar o National Book Awards, um dos mais respeitados prêmios literários dos Estados Unidos.
Depois de tê-lo lido e considerado um dos livros da minha vida, posso dizer que Só Garotos é muito, MUITO mais que uma biografia, está bem mais para uma viagem de volta ao cenário beat norteamericano, da década de 1970, de uma época onde a ideia era “respirar” arte. Me arrisco a dizer até que é um livro nostálgico – de um tempo que obviamente não vivi -, mas quando ouço músicas ou, sei lá, qualquer coisa ligada a esse tempo, sinto que Patti já me contou tudo que havia de mais legal por lá.
Acho que estou escrevendo esse post há mais de três semanas, nunca consigo achar as palavras exatas para descrever o quanto Só Garotos é encantador.
Nele, Patti, que cresceu em Nova Jersey, começa contando sobre sua rotina bastante pacata na cidade, até que aos 20 anos decidi ir a Nova Iorque em busca de uma nova vida. Na mala? Um livro de Rimbaud (poeta que ela tanto amava) e mais nenhum tostão furado.
Lá ela passa por maus bocados, até conhecer Robert Mapplethorpe, que muda sua trajetória para sempre e para quem Patti prometeu um dia escrever o livro com a história de suas vidas. Juntos os dois vivem um grande amor, tanto de um pelo outro, quanto dos dois pela arte.
De forma cronológica, Patti conta como os dois eram realmente parceiros de vida. Quando queriam conferir alguma exposição na cidade, apenas um entrava no museu e contava para o outro como era tudo lá dentro. Em uma época muito difícil, quando os dois realmente passavam fome, Mapplethorpe chegou a se prostituir para conseguir dinheiro.
Mas, o sonho de ser um grande artista sempre falou mais alto dentro de ambos. Robert com a ideia fixa de se tornar um artista plástico respeitado e Patti com o objetivo de disseminar seus poemas pelo mundo.
Eles passam por grandes mudanças, como quando Robert se assume gay e os dois passam a se ver apenas como amigos, ou como quando se mudam para o lendário hotel Chelsea e convivem com artistas como Janis Joplin, Savador Dalí e Jimi Hendrix. Eles também conseguem frequentar o círculo de amigos de Andy Warhol. E essa é uma das partes mais legais, interessantes e curiosas do livro. Patti e Robert passam um bom tempo tentando frequentar a tal távola redonda de Warhol.
Depois de se incluírem socialmente, os dois – com talento de sobra – conseguem se destacar com suas formas artísticas, mas ainda sem serem mundialmente famosos. Patti começa a fazer recitais de poesia, muitas vezes na companhia de Allen Ginsberg, e a transformar suas letras em canções.
Já Robert Mapplethorpe passa da carreira de artísta plástico à de fotografo e expressa sua arte através de imagens, em sua maioria de homens nus ou de cenas sadomasoquistas.
No “pós-livro” Mapplethorpe deixou sua marca no mundo das artes e se tornou um dos maiores ícones da fotografia. Assim como Patti Smith, considerada a precursora e a grande poetisa do Punk. Seu disco “Horses” (1975), que teve a capa fotografada por Robert, é um dos mais influentes da história do rock and roll.
Mas o livro termina sem grandes exaltações, Patti não se vangloria de seus feitos, seu final se dá quando ela recebe por telefone a notícia da morte de Robert, vítima da AIDS.
É um livro sem explicações, é preciso ler! E mesmo para quem não conhece o trabalho de Patti Smith ou Robert Mapplethorpe é uma grande experiência, de onde é impossível sair sem se tornar admirador de uma das maiores mulheres do rock!